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A homilia de hoje do Papa Leão XIV, pronunciada durante a Santa Missa pelo Jubileu das Famílias, das Crianças, dos Avós e dos Idosos, ressoa como uma profunda meditação sobre o mistério do amor humano e divino. Enraizada na oração sacerdotal de Jesus, tirada do Evangelho de João 17, as palavras do Papa nos convidaram ao coração do Evangelho: o chamado à unidade, uma unidade que reflete a vida da Trindade e abrange toda a família humana.
O que tornou esta homilia particularmente luminosa foram duas referências sabiamente escolhidas: o ensino profético da Humanae Vitae e a profundidade teológica de Santo Agostinho. Essas referências enriqueceram a mensagem do Papa, traçando uma linha de continuidade entre a realidade vivida da família, a tradição magisterial da Igreja e o destino eterno prometido a nós em Cristo.
Humanae Vitae: O amor como dom total
Quando o Papa Leão XIV citou São Paulo VI—«o casamento não é um ideal, mas a medida do verdadeiro amor entre um homem e uma mulher: um amor total, fiel e fecundo» (Humanae Vitae, 9)—não apenas fez referência a uma encíclica do passado; ele repôs sua mensagem central a um mundo cada vez mais tentado a reduzir o amor a uma emoção passageira ou a um contrato de conveniência.
A Humanae Vitae, promulgada em 1968, foi uma reafirmação corajosa do ensinamento perene da Igreja sobre o amor humano, especialmente diante da revolução sexual. Sua intuição central—que o amor conjugal é inseparável da abertura à vida—não era simplesmente uma regra moral, mas uma visão do florescer humano. Com seu apelo, Leão XIV destacou que o amor não é uma realidade fechada em si mesma. Ao contrário, é um dom que reflete o Criador, um amor que gera vida e nutre a comunhão.
Este ensinamento ganha força particular hoje, em um contexto onde a família é frequentemente pressionada por correntes culturais e ideológicas que privilegiam a autonomia individual em detrimento da interdependência relacional. Ao lembrar a Humanae Vitae, o Papa Leão XIV reafirmou a dignidade do amor conjugal como vocação e missão—um amor que, como afirma a encíclica, é caracterizado pela «totalidade, fidelidade e fecundidade».
O Papa evocou com ternura figuras luminosas como Luís e Zélia Martin, Luís e Maria Beltrame Quattrocchi e a família Ulma, canonizados não como indivíduos, mas como casais e famílias. As suas vidas testemunham que o caminho da santidade se encontra na Igreja doméstica, onde os esposos se santificam mutuamente e com seus filhos através de gestos diários de amor e sacrifício.
Santo Agostinho: Unidade além do tempo
O auge da homilia foi a referência do Papa Leão XIV ao Sermo super Psalmum 127 de Santo Agostinho, onde o grande Doutor da Igreja fala sobre como seremos «um no Único». Essa expressão agostiniana encerra uma profunda intuição teológica: a unidade humana, quebrada pelo pecado, encontra seu cumprimento em Cristo, que nos reconcilia com o Pai. A frase evoca o destino último dos crentes: uma comunhão dos santos, uma união mística no amor eterno de Deus.
No pensamento de Agostinho, a visão do salmo sobre a vida familiar—«Os teus filhos como rebentos de oliveira à roda da tua mesa» (Salmo 127,3)—não é apenas um símbolo de prosperidade terrena, mas um sinal de esperança escatológica. As famílias, ensina Agostinho, são microcosmos da ordem divina, comunidades onde o amor nos prepara para o banquete eterno de Deus. A homilia de Papa Leão XIV, recorrendo a essas imagens, nos convidou a ver nossas próprias famílias—imperfeitas e frágeis—como sementes de unidade eterna.
As palavras do Papa nos lembram que a unidade pela qual Cristo ora não é uniformidade ou anulação das diferenças, mas uma comunhão de amor que reflete a própria Trindade: «Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, estejam eles também em nós» (João 17,21). Um amor que transcende a morte, abraçando os nossos entes queridos que nos precederam e tornando a sua memória parte da nossa celebração litúrgica de hoje. Nesse sentido, o Jubileu das Famílias não é apenas uma festa dos laços presentes, mas também uma lembrança da nossa esperança comum na ressurreição.
Um convite à ação
A homilia de Papa Leão XIV não foi apenas contemplativa; também foi um convite à ação. As suas exortações aos pais—educar os filhos «na liberdade através da obediência», «ver sempre o bem neles» e nutrir seus talentos—refletem a sabedoria pastoral de um homem atento aos desafios das famílias modernas. O seu convite aos filhos para expressarem gratidão diária aos pais, e aos avós e idosos para oferecerem orientação com «sabedoria e compaixão», delineia um retrato da família como escola de amor e fé, onde cada geração tem um papel em nutrir e transmitir a vida.
Em um mundo fragmentado, onde o individualismo e a alienação frequentemente corroem os laços de parentesco e comunidade, a homilia de Papa Leão XIV se ergue como um chamado profético: as famílias não são apenas o fundamento da sociedade, mas também o sinal vivo da aliança de Deus com a humanidade. Suas palavras finais—«As famílias são o berço do futuro da humanidade»—ressoam não apenas a Humanae Vitae, mas também o ensinamento de São João Paulo II sobre a família como «Igreja doméstica» e santuário da vida.
Em resumo, a homilia de Papa Leão XIV soube entrelaçar com maestria Escritura, tradição e sabedoria pastoral. Seus apelos à Humanae Vitae e a Santo Agostinho iluminaram o caminho da família como realidade ao mesmo tempo natural e sobrenatural. Sua mensagem foi clara: na família encontramos não só uns aos outros, mas também o rosto de Cristo, que nos reúne na unidade. Ao nos esforçarmos para encarnar esse amor em nossas casas e comunidades, vislumbramos a promessa de ser «um no Único»—uma comunhão eterna em Deus, que é o próprio Amor.