Cidade do Vaticano – A nova dupla à frente do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica — composta pela Irmã Simona Brambilla, prefeita desde janeiro de 2025, e pela Irmã Tiziana Merletti, secretária a partir de maio seguinte — já começou a imprimir a sua marca ideológica. E, como era de se esperar, as primeiras vítimas correm o risco de ser aquelas realidades vivas e dinâmicas que não se encaixam na forma mentis de duas sexagenárias filhas da escola sessentista.

Há poucos dias, partiu da Praça Pio XII uma carta endereçada à comunidade cisterciense de Heiligenkreuz, histórica abadia austríaca que representa hoje um dos raros exemplos de renascimento monástico autêntico na Europa. A missiva anuncia uma Visita Apostólica por parte do Dicastério. Um sinal claro e inequívoco que tem, nas sombras, sempre a presença de Mauro Giuseppe Lepori.

Mauro Lepori e a inveja

Por trás dessa intervenção do Dicastério, paira a figura controversa de Mauro Giuseppe Lepori, Abade Geral da Ordem Cisterciense, que há tempos conduz uma cruzada pessoal e obstinada contra aqueles que, dentro da própria família religiosa, ousam trilhar caminhos diferentes dos seus. Já conhecido por suas relações nos salões de Comunhão e Libertação, pelo desejo nunca escondido de se tornar bispo, e pela intensa atividade em congressos, Lepori tem feito de tudo para comissionar realidades religiosas que não se encaixam em seu modelo — mesmo sem provas ou acusações concretas.

Um precedente emblemático é o do Mosteiro de São Tiago de Veglia, que foi colocado na mira graças à ação desinibida de Lepori e à cumplicidade silenciosa do Dicastério. Agora é a vez de Heiligenkreuz, uma realidade dinâmica e repleta de jovens, guiada pelo Abade Maximilian Heim, figura sólida e respeitada internacionalmente. E é justamente Heim que foi, várias vezes, alvo das críticas destrutivas de Lepori, culpado de encarnar um modelo de vida cisterciense “pouco monástico” demais segundo os cânones italianos (ou franceses, por exemplo). Mas há apenas uma forma de ser monge? Ou a Igreja é composta por diferentes carismas?

O veneno sutil da inveja clerical

Aqui emerge uma questão fundamental: a inveja, chaga endêmica no clero e no mundo religioso. Sempre que uma realidade funciona, se regenera, atrai jovens e devolve esperança ao Povo de Deus, há sempre alguém — frustrado e inseguro — pronto a semear dúvidas, lançar calúnias, construir narrativas tóxicas. As acusações não precisam de provas: basta um sussurro, uma insinuação, um e-mail anônimo enviado à pessoa certa, e a máquina inquisitorial entra em ação. Certas bocas sempre lançam insinuações e calúnias de ordem moral, mas, na verdade, o que se atribui aos outros não é senão o reflexo dos desejos ocultos de quem fala. A história recente da Igreja está cheia de processos sumários, nos quais a expressão “visita apostólica” se torna a antecâmara da suspeita, não da verdade e do cuidado paterno. E quem semeia discórdia, muitas vezes, o faz projetando suas próprias feridas interiores nos outros, como recordam numerosos estudiosos da psique.

Heiligenkreuz é um exemplo evidente: uma comunidade florescente, jovem, enraizada na liturgia e na vida monástica, com impacto real na vida de famílias, estudantes e fiéis. Em tempos de desertificação vocacional, uma abadia como essa deveria ser imitada e admirada, não perseguida.

Um ataque ideológico disfarçado de inspeção

Mas aqui a questão não é apenas Lepori. O verdadeiro problema é que à frente do Dicastério estão duas mulheres que favorecem e compartilham uma visão uniformizante e desconfiada em relação a qualquer forma de sucesso na vida religiosa. Especialmente em relação às realidades em que a fidelidade à tradição se une à vitalidade pastoral. A dupla Brambilla-Merletti corre o risco de transformar o Dicastério em um instrumento de repressão ideológica, onde as visitas apostólicas não são instrumentos de discernimento, mas armas políticas para demolir o que não se alinha.

Numa Igreja que muitas vezes se refugia na abstração ou no compromisso, abadias como Heiligenkreuz representam um farol incômodo. Liturgia demais? Latim demais? Jovens demais com hábito monástico? Talvez para alguns, sim. Talvez seja exatamente por isso que Heiligenkreuz está sendo atacada. E talvez não seja coincidência que isso aconteça justamente agora, com duas mulheres à frente de um Dicastério que nunca teve essa configuração antes. Não esqueçamos, além disso, que há quem nutra antipatia por esse mosteiro porque é o berço da Philosophisch-Theologische Hochschule Benedikt XVI. Trata-se de uma universidade reconhecida pelo próprio Bento XVI em 2007, muito válida e com professores católicos competentes.

É evidente que aqui o problema é o uso do poder eclesiástico para sustentar uma visão ideológica e uniformizante, que sufoca a diversidade dos carismas e mortifica aquilo que cresce espontaneamente.

Um alerta para toda a Igreja

O caso Heiligenkreuz não é apenas uma questão interna da Ordem Cisterciense. É um teste para toda a Igreja. Se for permitido que a vingança pessoal e o ciúme ideológico se sobreponham à verdade dos fatos e à vitalidade dos carismas, então ninguém estará a salvo.

Nem os mosteiros, nem as novas comunidades, nem os movimentos, nem as paróquias onde ainda se tenta viver o Evangelho com rigor e beleza. Heiligenkreuz não é perfeita — nenhuma comunidade o é — mas é um sinal de esperança em meio a muitos escombros. Se até isso for demolido, para satisfazer as frustrações de alguns e o controle de quem teme a liberdade, então ficará claro que o problema não são os monges, mas quem governa com a alma cega pela ideologia e pelo ressentimento.

“Pelos seus frutos os reconhecereis” (Mt 7,16). Talvez seja o momento de olhar para os frutos. E de não deixá-los apodrecer por culpa da inveja.

p.L.H.
Silere non possum